Um ateu foi acusado de blasfêmia e preso depois de ser denunciado pelo Conselho de Ulemás da Indonésia. O arquipélago da Indonésia, com 210 milhões de habitantes é o maior país muçulmano do mundo. Estima-se que 90% de sua população segue o Islã. Os ulemás são um tipo de líder religioso muçulmano.
O Comissário Chairul Aziz, chefe de polícia de Dharmasraya, cidade da ilha de Sumatra disse em entrevista ao jornal Jakarta Globe que os representantes do Conselho de Ulemás e de outras organizações islâmicas acreditam que Alexander, 31, afrontou o Islã usando passagens do Alcorão para negar a existência de Deus.
Alexander, um funcionário público, pode ser condenado a passar cinco anos na prisão por escrever “Deus não existe” na página do Facebook do grupo que ele modera, “Ateis Minang” (“Os ateus de Minang”). Essa página tem 1.361 seguidores.
De acordo com seu perfil pessoal no Facebook, ele foi criado muçulmano, mas em 2008 decidiu não mais seguir a religião de seus pais. Suas postagens aparentemente foram removidas após sua detenção.
Seu breve comentário acabou gerando um debate sobre religião com outros usuários da rede social. Logo em seguida ele também teria escrito: “Se Deus existe, por que acontecem coisas ruins?” e também “Se Deus é misericordioso, deveriam acontecer apenas coisas boas”.
O que começou como uma argumentação on-line, acabou levando dezenas de pessoas irritadas com Alexander a invadir o escritório onde ele trabalhava. Entre elas estavam alguns de seus colegas de trabalho. Além de passarem a discutir verbalmente dentro escritório, alguns passaram a agredi-lo violentamente. A polícia então foi acionada e agora Alexander está em regime de prisão preventiva.
O comissário Chairul explica que o problema maior foi Alexander ter usado o Alcorão para justificar seu ponto de vista ateu. ”Ao fazer isso, ele violou as leis antiblasfêmia do país, ofendendo o Islã.”
“O homem disse aos investigadores da polícia que, se Deus realmente existe e tem poder absoluto, por que ele não impedir que coisas ruins acontecendo neste mundo.”
O Código Penal da Indonésia prevê uma pena de até cinco anos para o crime de blasfêmia, definido como “expressar publicamente sentimentos ou fazer algo que divulgue abusos, ódio ou ofensas a certas religiões na Indonésia, de forma que possa fazer alguém desacreditar a religião”.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos da Indonésia, presidida por Ifdhal Kasim pediu que a polícia mantenha-se neutra e não sinta-se forçada a agir pela pressão da maioria.
“Eles deveriam proteger a liberdade de expressão, em vez de ouvir os apelos da maioria”, disse ao jornal. ”A polícia deve permanecer neutra, em vez de cumprir a lei subjetivamente”.
Ele também atacou o Conselho de Ulemás, dizendo que é uma organização religiosa e não uma instituição estatal. ”Se todo mundo obedece o que o Conselho diz, seguir a lei será impossível”.
Um membro de uma importante organização ateísta da capital Jacarta, disse que o caso é uma clara violação dos direitos humanos. Ele não quis ser identificado, pois teme por sua segurança. “Se o Conselho de Ulemás pensa que há um amigo imaginário lá em cima, isso não significa que as outras pessoas também devem acreditar “, disse ele. ”Por que não podemos criticar a religião? Isso é contra a liberdade de expressão e os direitos humanos.”
Traduzido e adaptado The Blaze e The Jakarta Globe
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